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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Maria Pano de Chão - Jessier Quirino


Vou dizer como é que eu era
Antes de ser de Maria:
Era um cabra corajoso
Precipitoso e ferino
Desses que só bate o pino
Prá Deus Pai, prá Deus Menino
Pros assuntos do Divino
E pro time de Jesus.

Parente de grau chegado
Do Capitão Virgulino
Resolvedor de pepino
De pontaria aguçada…
Por essa vida aloprada
Vez por outra eu chumbregava
Beijava, cafunezava
Mas não sentia paixão.


Não falava voz de seda
Eu era coisura azeda…
Pensamento de limão.
Mas um dia, meu cumpadre,
Relaxei a prontidão
E num piscar de relâmpo
Que nem um par de tamanco
Tava preso num cordão.

Era o cordão de Maria
Caçula de “seo Bastim”
Se rindo, se aprochegando
E os dentinhos mordiscando
Um pendãozim de capim.
O manhoso da danada
Era chave de prisão.
Com um balde, um rodo e um sabão
E aquela saia azulzinha
Assoalhando a cozinha
Surfando em pano de chão.

Aquilo não é serviço
Aquilo é mais um balé!
Panim de chão bem pisado
E os passinho pinicado
Perguntando: tu me quer?
Eu confesso, meu cumpadre
Que´u que nunca fui pisado
Desejei ser espremido
Aberto e no chão botado
Banhado d´água e sabão
Desejei ser pisunhado
Pelos pezim da bondade
Desejei ser, na verdade,
Aquele panim de chão.

Juro perante o divino
Que, na hora e nesse dia
Bem dizer uma oração
Eu debrulhei prá Maria:

Maria do andar azul
Maria ingrediente dengoso
Maria de saia acambraiada
Maria bordada
Maria aprendida sem pecado
Maria croqui da imaculada perfeição
Maria assassina da tristeza
Maria do colo quente
Maria cantina de suflê
Maria rosê
Maria isenta de partículas de feiúra
Maria doçura
Maria pressagiozinho calmoso
Maria que cutuca meu peito incutucável
Maria amorável
Maria água e sabão
Maria pano de chão
Maria belisca-flor
Maria mãe do frescor
Maria chuva dourada
Maria romanceada
Maria adubo do amor
NÃO FAÇA EU DIZER: AMOR!!
MEU AMOR!!!


Bem, agora vem a parte principal da ideia geral que é essa música do queridíssimo Jessier. Afinal, os brutos, também amam, não é? Principalmente eles...

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Ternura - Vinícius de Morais


Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar 
                                                                                          [ extático da aurora.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Sem Título

As vezes eu sinto um aperto no peito
Não sei se outrora sentia, mas se sentia
É porque era fácil discernir entre dor e aperto
Se bem que notado o desespero
Não é necessária a presença do ser
Gentilmente colhido, o algodão 
Mesmo sem querer
Enxuga as águas escorridas
Sendo pálio para todas elas
Menos aquelas que não querem ser colhidas
Há uma necessidade de sustentação
Como se fosse um voo inicial
Há um cúmplice
Para que a vida dê o apito final
Mas o campeonato... ah o campeonato...
Insiste em querer mais
No fim o que resta é o vento nas cadeiras vazias
A conta das escolhas feitas
O cobrador a espreita
E a vida na palma da mão.


Após feito o poema, fiquei na dúvida se postava ou não. Sei que talvez entendam que tem haver com o futebol, mas se notarem bem, todas as paixões são iguais. O que eu quero deixar claro é que a maioria dos poemas por mim feitos são de interpretações individuais, jamais devem ser feitos a fins de interpretação única, porque se não, a individualidade é corrompida e sei que nenhum de nós deseja isso, não é?

Saudade - Fernando Pessoa



"Um dia a maioria de nós irá se separar. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que compartilhamos. 
Saudades até dos momentos de lágrima, da angústia, das vésperas de finais de semana, de finais de ano, enfim... do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre. Hoje não tenho mais tanta certeza disso. Em breve cada um vai pra seu lado, seja pelo destino, ou por algum desentendimento, segue a sua vida, talvez continuemos a nos encontrar quem sabe...
Podemos nos telefonar, conversar algumas bobagens... Aí os dias vão passar, meses... anos... até este contato tornar-se cada vez mais raro.
Vamos nos perder no tempo... Um dia nossos filhos verão aquelas fotografias e perguntarão?
Quem são aquelas pessoas? Diremos... Que eram nossos amigos. E... isso vai doer tanto! Foram meus amigos, foi com eles que vivi os melhores anos de minha vida!
A saudade vai apertar bem dentro do peito. Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente... Quando o nosso grupo estiver incompleto.. . nos reuniremos para um ultimo adeus de um amigo. E entre lágrima nos abraçaremos.
Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado.
E nos perderemos no tempo... Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades seja a causa de grandes tempestades. ..
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"




Gosto muito de Fernando Pessoa, mas só de pensar nisso me dá um aperto no coração... =\